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Desigualdade de Gênero no Audiovisual Brasileiro: Avanços Políticos e Desafios Persistentes



A desigualdade de gênero no setor audiovisual brasileiro permanece como uma realidade alarmante, apesar de políticas públicas recentes que visam combatê-la. Com base nos dados do Anuário Estatístico do Audiovisual Brasileiro 2023 e no Resultado Preliminar da Etapa de Habilitação das Propostas da Chamada Pública BRDE/FSA - Produção Seletivo Cinema - 2024, é possível traçar um panorama crítico da participação feminina nas áreas de direção, roteiro e produção.



O Anuário revela que, em 2022, houve uma acentuada queda na participação feminina no setor audiovisual, que passou a representar menos de 40% da força de trabalho. Essa redução contrasta com o cenário da economia brasileira em geral, onde a presença das mulheres não sofreu retração no mesmo período.


O recorte sobre os longas-metragens brasileiros lançados nos cinemas em 2023 reforça esse diagnóstico. A presença masculina domina funções-chave como direção (64,6% exclusivamente por homens) e roteiro (49,4% exclusivamente por homens), enquanto as mulheres aparecem com 23,6% e 18,1% nessas funções, respectivamente. Em contraste, as mulheres se destacam na direção de arte (48,8% exclusivamente feminina) e na produção executiva (37,3% exclusivamente feminina), demonstrando maior presença em funções organizacionais e estéticas, mas ainda limitada nos cargos de liderança criativa.



Diante desse cenário, a Chamada Pública BRDE/FSA - Produção Seletivo Cinema - 2024 surge como uma resposta política significativa. A exigência de destinar no mínimo 50% dos recursos a projetos liderados por mulheres cis ou pessoas trans nas funções de roteiro, direção ou produção representa um marco importante no fomento à equidade de gênero. O resultado preliminar da etapa de habilitação mostra que, das 1235 propostas analisadas sob essa cota, 1132 foram consideradas aptas, sinalizando uma demanda crescente por representatividade e espaço no setor.



Entretanto, ainda que a política de cotas da ANCINE represente um avanço notável, os dados mostram que a paridade de gênero no audiovisual brasileiro está longe de ser alcançada. A permanência de desigualdades salariais, bem como a baixa presença de mulheres em funções técnicas e criativas estratégicas, indica que ações pontuais não são suficientes. É necessário promover mudanças estruturais nas práticas e culturas institucionais que sustentam essa disparidade.



Em suma, o enfrentamento da desigualdade de gênero no audiovisual brasileiro exige um compromisso contínuo, com políticas públicas bem monitoradas, incentivos sustentáveis e transformações profundas nas relações de poder dentro da cadeia produtiva do setor. Somente assim será possível garantir um ambiente verdadeiramente inclusivo e igualitário para todos os profissionais do audiovisual



 
 
 

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SOBRE A VERA 

Com mais de 30 anos de experiência na área pública, Vera ocupou diferentes cargos nas principais instituições responsáveis pelas políticas públicas para o audiovisual e pelo financiamento do setor cinematográfico no Brasil
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